Como a Alemanha se tornou referência em testes de filtros
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Arquitetura normativa robusta, metrologia de aerossóis avançada e sistemas de teste e medição de alta precisão colocaram a Alemanha na liderança global dos ensaios de filtragem.
Este white paper descreve fundamentos científicos, métodos, normas de ensaio e equipamentos aplicados, com foco em reprodutibilidade e confiabilidade metrológica para decisões de engenharia.
1. Conceitos Fundamentais
1.1 Princípios físicos de captura
A eficiência de um filtro decorre da combinação de mecanismos: difusão Browniana (dominante para partículas menores, tipicamente < 100 nm), interceptação (trajectórias próximas às fibras), impacto inercial (relevante em partículas > 1 µm e altas velocidades), peneiramento (quando o diâmetro das partículas excede o tamanho de poro) e forças eletrostáticas (em meios filtrantes eletretados). A interação entre mecanismos define a eficiência fracionária ao longo do espectro de tamanhos.
1.2 MPPS, penetração e queda de pressão
Para filtros de alta eficiência (p.ex., filtros HEPA e ULPA), a menor eficiência ocorre na MPPS (Most Penetrating Particle Size), geralmente entre 0,07–0,3 µm, dependendo do meio e da velocidade superficial. Ensaios fracionários precisam resolver este intervalo com análise granulométrica de alta resolução. Em paralelo, a pressão diferencial (ΔP) é monitorada para avaliar perdas de carga iniciais e sob carregamento de poeira.
1.3 Aerossóis de teste e propriedades
O aerossol de teste deve ser estável, com distribuição de tamanhos controlada e concentração adequada à faixa dinâmica dos instrumentos. Materiais comuns: NaCl/KCl (higroscópicos, refrativo conhecido), DEHS/PAO (óleo estável), e PSL (esferas monodispersas para calibração). Neutralização de carga (raio-X suave) padroniza a mobilidade elétrica das partículas para medições comparáveis.
1.4 Parâmetros críticos
Velocidade superficial e vazão volumétrica nominal (ISO 16890 usa aprox. 0,944 m/s);
Condições ambientais (T/RH) e condicionamento do meio (descarga IPA em ISO 16890);
Distribuição e estabilidade do aerossol (GSD, CMD/MMD);
Traçabilidade metrológica e incerteza de medição;
Isocineticidade e homogeneidade de fluxo nas seções de amostragem.
2. Métodos e Técnicas de Medição
2.1 Medição fracionária (contagem por tamanho)
Compara-se concentração upstream e downstream por classe de diâmetro, obtendo a eficiência fracionária. Instrumentos típicos: espectrômetro de aerossol por mobilidade (SMPS) para 10–500 nm, contadores ópticos (OPC/OPS) para 0,3–10 µm e APS para diâmetro aerodinâmico até 20–30 µm. A combinação SMPS+OPS/APS cobre a faixa crítica da MPPS e acima.
Aplicações: classificação EN 1822/ISO 29463 de HEPA/ULPA, validação de meios filtrantes finos e análise de penetração por tamanho em filtros automotivos e de turbinas.
Limitações: necessidade de neutralização de carga, correções de índice de refração para OPC, calibração rigorosa e controle de perdas por difusão em linhas de amostragem.
2.2 Fotometria/óptica de extinção (penetração global)
Fotômetros de aerossol medem concentração em unidades de massa ou CH/RS (escala relativa) pela extinção ou espalhamento integrado. Viabilizam varredura de fugas e ensaios de penetração total com aerossóis polidispersos (DEHS/PAO). Úteis para testes de integridade em campo (p.ex., salas limpas) e controle rápido de produção.
Limitações: não resolvem por tamanho; sensíveis à composição óptica do aerossol e requerem calibração com material de referência.
2.3 Gravimetria e métodos de massa
Na gravimetria, a massa coletada em filtros de referência é comparada entre upstream e downstream ou pela variação de massa do elemento em ensaios de carregamento. Em ISO 16890 determina-se ePM1, ePM2,5 e ePM10 a partir de distribuição por tamanho e função de ponderação em massa. Em ISO 5011 (automotivo), poeira padronizada (ISO A2/AC) é dosada para construir curvas de ΔP vs. carga e eficiência sob carregamento.
2.4 Medição de ΔP e parâmetros auxiliares
Transdutores de pressão diferencial com resolução adequada e baixa deriva são essenciais, bem como medição de vazão (venturímetros, bocal crítico, mass flow controllers) e condicionamento térmico/umidade. O bloco de dados mínimo inclui ΔP, eficiência fracionária ou global, vazão, temperatura, umidade e concentração do aerossol.
2.5 Comparação resumida
Fracionária (SMPS/OPS/APS): máxima resolução; requisito para EN 1822/ISO 29463; maior complexidade.
Fotométrica: rápida, ideal para leak test e integridade; sem análise granulométrica.
Gravimétrica: robusta para carga e classificação de HVAC (ISO 16890) e automotivo (ISO 5011); resolução fracionária indireta.
3. Equipamentos Usados no Setor
3.1 Geração e condicionamento de aerossóis
Geradores de sal (NaCl/KCl) por atomização e secagem;
Geradores de óleo (DEHS/PAO) por bico Laskin, disco rotativo ou atomizadores controlados;
Neutralizadores de carga (raio-X suave);
Sistemas de diluição isocinéticos e misturadores para homogeneizar o aerossol de teste.
3.2 Detecção e análise
Espectrômetro de aerossol SMPS para nanossegmento (mobilidade elétrica);
OPS/OPC para 0,3–10 µm por contagem de partículas via espalhamento óptico;
APS para diâmetro aerodinâmico e cálculo de massa por suposição de densidade;
CPC para baixíssimas concentrações e verificação de penetração em ULPA.
3.3 Bancadas e sistemas de ensaio
As bancadas integram seções de amostragem upstream/downstream, condicionamento ambiental, medição de vazão e ΔP, e módulos de análise. Sistemas de fabricantes alemães — como os sistemas TOPAS para ISO 16890 e EN 1822/ISO 29463 — são amplamente utilizados por sua estabilidade de fluxo, controle de aerossóis e integração com espectrometria e fotometria. Há também plataformas modulares para ensaio de meios filtrantes (folhas/coupons), bancos para filtros automotivos (ISO 5011) e células para filtros de admissão de turbinas (ISO 29461).
3.4 Metrologia e calibração
Traçabilidade a padrões nacionais (PTB) e acreditação DAkkS conferem confiabilidade. Calibração de fluxo, ΔP, resposta fotométrica e curvas de tamanho (PSL) é exigida, com incerteza expandida documentada conforme GUM.
4. Aplicações Reais em Indústria e Laboratórios
4.1 HVAC e salas limpas
Em HVAC, a classificação ISO 16890 substituiu a EN 779, orientando a seleção por ePM1/ePM2,5/ePM10. Em salas limpas, a aceitação e requalificação de filtros HEPA e ULPA seguem EN 1822/ISO 29463 (eficiência fracionária e MPPS) e testes de integridade por varredura (EN 1822-4) ou conforme ISO 14644-3, com contagem de partículas ambiente para qualificação da sala.
4.2 Indústria farmacêutica e biotecnologia
Aplicações GMP (Anexo 1) exigem detecção de fugas em nível sub-ppm, controle de ΔP, rastreabilidade e documentação rigorosa. A escolha do aerossol de teste (DEHS/PAO) e do método (fotométrico para integridade, fracionário em homologação) é central para assegurar barreiras estéreis.
4.3 Automotivo e motores off-road
Em ISO 5011, a avaliação do elemento de ar usa poeira padronizada, medindo eficiência inicial, sob carga e o crescimento de ΔP. Ensaios fracionários com OPS/APS antecipam comportamento em comportamento de partículas finas (1–3 µm) críticas para desgaste, complementando a curva de retenção e a capacidade de poeira.
4.4 Turbinas a gás e energia
Segundo ISO 29461, a classificação de filtros de admissão aborda análise granulométrica, eficiência fracionária relevante ao ambiente (costeiro/desértico), ΔP e recuperação. Dados fracionários alimentam modelos de fouling e perda de potência.
4.5 Desenvolvimento de meios filtrantes
Laboratórios de P&D avaliam meios filtrantes em cupons quanto à permeabilidade, distribuição de poros, eficiência fracionária e estabilidade eletrostática (pré e pós-descarga IPA). A correlação entre propriedades do meio e desempenho em elemento completo reduz ciclos de prototipagem.
5. Boas Práticas e Parâmetros Críticos
5.1 Fatores de reprodutibilidade
Estabelecer comprimentos de mistura e perfis de velocidade uniformes (coeficiente de variação < 10% na seção de teste);
Garantir amostragem isocinética e simétrica upstream/downstream;
Neutralizar carga das partículas e controlar RH para evitar crescimento higroscópico com sais;
Selecionar instrumentos com faixas sobrepostas para cobrir a MPPS (SMPS+OPS) e verificar coerência de espectros;
Aplicar correções de índice de refração para OPC/OPS, especialmente com DEHS/PAO.
5.2 Redução de incerteza
Calibrar vazão, ΔP e resposta de contadores com traçabilidade PTB/DAkkS;
Quantificar perdas em linhas (difusão, deposição) por testes de recuperação;
Executar ensaios em duplicata e rodadas interlaboratoriais (ring tests);
Usar materiais de referência (PSL) para checar a curva de tamanho;
Documentar orçamento de incerteza e critérios de aceitação.
5.3 Escolha de métodos
Homologação HEPA/ULPA: fracionário (EN 1822/ISO 29463) com MPPS, varredura de fugas e CPC para baixas penetrações;
HVAC: ISO 16890 com descarga IPA, OPS e ponderação ePM1/ePM2,5/ePM10;
Automotivo: ISO 5011 com gravimetria e ΔP sob carga, fracionário complementar (OPS/APS);
Turbinas: ISO 29461 com fracionário amplo, testes ambientais e recuperação;
Meios: bancadas de cupons com geração estável de aerossol e controle de velocidade superficial.
5.4 Erros comuns a evitar
Usar aerossol polidisperso sem controle para determinar MPPS;
Desalinhamento de vazão ou amostragem não isocinética gerando viés de tamanho;
Linhas longas sem aquecimento/secagem ao testar sais higroscópicos;
Ignorar descarga de eletret em ISO 16890, superestimando eficiência;
Operar fora da faixa dinâmica do instrumento, saturando contagens.
5.5 Papel dos sistemas integrados
Soluções integradas — como os sistemas TOPAS para ensaios conforme EN 1822/ISO 29463 e ISO 16890 — combinam geração estável de aerossóis, controle fino de vazão e módulos de detecção interoperáveis (SMPS/OPS/fotometria). A integração reduz variabilidade, simplifica a conformidade com normas de ensaio e melhora a reprodutibilidade entre lotes e laboratórios.
6. Conclusão Técnica
A referência alemã em teste de filtros resulta da convergência de padronização (EN 1822/ISO 29463, ISO 16890, ISO 5011, ISO 29461, ISO 14644), infraestrutura metrológica (DAkkS/PTB), engenharia de precisão e disponibilidade de sistemas de teste e medição maduros. Medições tecnicamente corretas — com ênfase em eficiência fracionária, contagem de partículas, pressão diferencial e análise granulométrica — determinam a confiabilidade dos resultados e o desempenho no campo.
A adoção de equipamentos adequados (geradores de aerossol, espectrômetros de aerossol, contadores, fotômetros e bancadas normativas), combinada a protocolos robustos, melhora a comparabilidade internacional, reduz incertezas e acelera o desenvolvimento de meios filtrantes e elementos.
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